(orquídea lá das férias na casa de campo)
Muitas vezes eu tenho saudades da minha vida. É estranho dizer, mas passado um tempo dos acontecimentos eu sinto uma saudade boa do que aconteceu há um certo tempo. Não se trata de uma nostalgia triste, daquelas que a gente chora e aperta o coração, mas sim daquela saudade pequena, que faz cócegas quando a gente lembra dos bons momentos.
As férias de janeiro, invariavelmente, provocam isto comigo. Apesar do período prolongado de descanso, eu nunca marco algo mirabolante. São férias serenas, com um cotidiano em câmera lenta. Antes ficávamos na casa do meu pai, e agora na casa de campo. Foi bom viver o trivial sem pressa, acordar preguiçosa para o café da manhã e poder desfrutar a companhia dos filhos nas coisas simples e diárias. Não fizemos nada além do que fazemos todos os dias – mas fazíamos com calma, pontuando o dia com vírgulas, como senhores do tempo, para poder realmente aproveitar.
Poder decidir o ritmo do nosso ir e vir é o que há de luxuoso. Poder sentir o aroma de uma fruta, o calor de um chá ou rir de uma carinha lambuzada de iogurte são eventos marcantes, até ouso dizer, memoráveis. São pequenas expressões do nosso cotidiano que ficarão na memória (e que mais para a frente provocarão as tais cócegas de saudades).
Mas para fruir destas pequenas delícias temos que fazer escolhas – como sempre. Brincando com as palavras, posso dizer que para apreciar as tais vírgulas nós temos que colocar alguns pontos finais em hábitos que nos consumiam. Parece engraçado, ou até mesmo utópico, porém a frase mais verdadeira que eu ouvi nos últimos tempos foi “Se não quiser mais fazer algo, simplesmente pare. O controle e a decisão cabem a você”. É mais simples do que imaginamos.
Muitas vezes nos enveredamos por caminhos que não necessariamente escolhemos, ou começamos a receber cobrança pelas quais não nos comprometemos. O problema, claramente, não são os caminhos nem as cobranças – e por conseqüência, nem mesmo as pessoas que nos cobram. O problema está em nos deixarmos ser cobrados, em nos deixarmos caminhar por onde não queremos. É neste momento que se faz presente e tão importante o “ponto final”. Saber onde parar e quando parar.
Hoje, realmente, estou sentada em frente ao micro para começar meu ano de 2013. As crianças já foram para a escola, a casa está limpa e abastecida. E a minha alma está nova, cheia de curiosidade e ânsia para respirar. As vírgulas deram o fôlego e o distanciamento necessário para se colocarem os pontos. Que neste ano que agora começa exista sabedoria em abundância para sabermos parar, ouvir e respirar.
Beijo grande