A cena é conhecida: entramos na loja de brinquedo e nos encantamos com as novidades. Somos mais do que nossos filhos, somos as nossas crianças interiores procurando satisfazer nossos desejos infantis através dos presentes que escolhemos para eles.
Muitas vezes já me perguntei se havia feito a compra certa de presentes para meus filhos. Será que eu comprei o que eles queriam ou o que eu queria?
Quando completou 6 anos, a minha filha começou a curtir música. Super bacana, pedia para eu colocar as músicas para ela, dançava e se divertia. Na mesma época, fui viajar para os Estados Unidos e aproveitei para abastecer o trenó do Papai Noel. Com o ritmo da balada infantil na cabeça, encasquetei que deveria dar algo que possibilitasse independência para que ela pudesse escolher suas músicas e dançasse livremente. Os CDs já não eram mais o meio pelo qual se tocam músicas – isto era vanguarda na minha adolescência. O mundo agora é da música digital.
Foi com este discurso que eu convenci o marido, muito ressabiado, a comprar um iPod para a pequena. Um iPod e um tocador para o iPod, ambos cor de rosa, para ela colocar em seu quarto. Supimpa!
Plano perfeito, execução tragicômica.
Antes de entregar o tal iPod colocamos algumas músicas nele. Primeira trapalhada: como nem eu nem o marido éramos muito familiarizados com o aparelho, colocamos muitas músicas nossas misturadas com músicas infantis, resultando uma playlist meio esquisita. Mas vamos que vamos! “Depois a gente conserta” foi a nossa justificativa.
E na véspera do Natal chega o Papai Noel, presentes desembrulhados e a mãe, toda afoita e ansiosa, pergunta: “E aí, filha? Gostou da surpresa?”. A menina responde que sim com a cabeça e quer ver o que pode fazer com o presente.
Mas ao ligar o aparelho constatamos que os fones originais não são adequados para uma criança: caem das orelhas da menina.
E que as músicas não são 100% bacanas.
E que para ligar o tocador no quarto, a única tomada disponível encontra-se atrás da cama, promovendo uma grande ginástica para que a traquitana fosse ligada.
E….
O resumo da ópera? O iPod e seu tocador foram pouquíssimos utilizados ao longo deste ano. É lógico: difícil de ligar, com músicas estranhas e fones caindo constantemente da orelha. Quem é que iria usar mesmo?
A criança praticamente abandonou o presente, o pai reclamou horrores e a mãe sentiu-se frustrada em seu desejo.
Nestas férias, resolvi reabilitar o iPod rosa – afinal de contas, o tocador de música é tão legal! Mudei – finalmente – a lista de músicas, ajeitei o tocador na sala de brinquedos onde o acesso para usar é fácil e ela tem espaço de sobra para dançar – ao contrário do quarto, onde há um espacinho de nada. Agora, eu ouço música vinda deles todos os dias. E para que ela “curta seu som” com privacidade, usa fones maiores foram providenciados.
Vamos recapitular? Não precisa, não é mesmo? Erros de conceito, erros de decoração.
Mas a lição fica: presente para criança é para a criança. E presente para criança tem que ser adequado nos desejos, faixa etária e acesso. Criança quer mais é brincar – e está certíssima nisto.
Decoração também é colocar os móveis e objetos nos lugares que proporcionam utilização máxima com o mínimo esforço. Isto chama-se planejamento e pensar efetivamente sobre os espaços, objetos e seus usos.
Beijo grande