Estava com a macaca – verdade verdadeira: estou com a macaca.
Fui arrumar um cabo da TV do escritório e revirei todo o ambiente: mudei as mesas de lugar, trouxe as perna finas para receberem as visitas hipotéticas – nunca recebo ninguém no escritório. Mas enfim: marido chegou em casa e soltou: “Eu não sabia que você iria redecorar!“. Nem eu marido, nem eu.
Sabia que dentro de mim está a inquietação da mudança: seja aqui, seja na recém nascida casa de campo. E que esta mudança faz parte de mim, do meu ser, da minha verdade.
Também sabia que muita água rolou debaixo da ponte desde que eu optei pelo bom ao invés do ótimo.
Mais de dois anos se passaram e por 6 meses este escritório abrigou o marido além de mim. Com ele, veio a nova mesa. Depois que o marido se foi para um novo escritório, veio meu novo micro. Com o novo micro, eu fui para a nova mesa e mudei de lugar. Com a nova escola da pequena, uma nova necessidade: um lugar para as lições de casa diárias. E assim, vamos acomodar a pequena na antiga mesa do pai.
Mas eu não queria continuar em frente à porta de entrada e a arrumação dos cabos da TV foi o estopim para a grande mudança: mesas lado a lado, retorno ao meu querido lugar de origem – ao lado dos meus diplomas e da frase do Pequeno Príncipe (“Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”). As poltroninhas pretas de couro, tão confortáveis e simpáticas, já tinham sido despachadas para o interior. E a cave foi para o living, já que não tinha sentido mantê-las no escritório sem um espaço confortável para sentar-se e apreciar um vinho.
Só restou firme e forte a estante “provisória”. Penso demais que agora tenho que tomar vergonha na cara e mandar fazer o armário definitivo – o espaço planejado e bonitinho está me fazendo uma falta danada, mas a ideia de algo tão definitivo me assusta um pouco.
Nada é definitivo em minha vida: eu já fui professora de inglês e de física (e algumas aulas de biologia!), vendedora de bijouteria, de cestas de café da manhã, pesquisadora, engenheira, executiva de marketing, vendas, planejamento estratégico, consultora, empresária, blogueira, apresentadora de TV… tanta coisa junta! Como é que eu posso ser definitiva?
Isto talvez explique porque eu procrastino tanto a realização dos móveis planejados – e “definitivos”. Mas talvez, isto seja uma resposta: tenho medo do definitivo, gosto do volátil, do leve (e divertido). Mais do que isto, talvez isto seja um bom desafio para mim: como tornar o definitivo algo mutante e alegre, como a nossa vida, e não assustador e denso.
Escrever sobre a vida através da decoração é o que eu faço e acredito. É isto que me faz feliz!
PS: o lado A do escritório (mais bonito e mais arrumado) está aqui ó: http://instagram.com/p/PrjkQxwutW/. É nesta mesona que ficam as crianças e o marido. A gente cuida de quem a gente gosta, né?
Um beijo grande (e leve!)