E mais um ano chega ao final. Gostando ou não, não há muito como fugir do ciclo de final/início da época.
Alguns estão felizes porque o “ano do 13, o malfadado” termina. Outros não estão nem aí.
Eu me preocupo – e muito – com a Copa que vem, assim como as eleições. Mas que venha 2014 e nos descortine seus dias, suas descobertas e seus desafios!
Aproveitei estes dias mais tranqüilos – como muitos de vocês – e li. Em quase uma tacada acabei um livro de crônicas antigo da Martha Medeiros (Trem-bala, 1999), autora que eu admiro muito a prosa e os certeiros pontos de vista, que também já publiquei por vezes aqui. E peço emprestadas suas palavras, pois é com uma crônica deste livro que eu me despeço de 2013 e desejo a todos vocês o melhor dos anos em 2014. Ao modo de cada um. 😉
Um beijo e até o ano que vem.
“Frank Sinatra não está mais entre nós, mas deixou imortalizada uma canção que circulou o repertório inclusive de Nina Hagen e dos Sex Pistols, My Way.A letra fala de um cara que teve uma vida cheia, que percorreu muitas estradas, que amou, riu, chorou, mas o importante é que fez tudo isso do jeito dele. “I’ve lived a life that’s full/I’ve traveled each and every highway/But more,much more than this/I did in my way”.
Semana passada escrevi que ser diferente pode ser mais estimulante do que ser o melhor.Essa diferença não está em ir para o trabalho de pijama ou comer churrasco de pinguim, mas em concentrar-se no que realmente nos dá prazer, sem julgar se é uma atitude politicamente correta ou incorreta, e muito menos contar pontos no ranking dos descolados.Trata-se de incorporar ao nosso dia-a-dia pequenos deleites que registrem nossa identidade.Os grandes prazeres são imperativos e comuns a todos, existem para satisfazer nossa necessidade de sexo, fome, sede, frio, calor, afeto.Os pequenos prazeres, ao contrário, nos individualizam, revelam a nossa maneira de estar no mundo.É o nosso jeito.
Em 99, de minha parte, quero ter tempo para ao menos um banho de banheira, ficar ali imersa ouvindo música e tomando um vinho branco bem gelado.Quero ler o livro novo da Lya Luft, quero ver os dois filmes do Woody Allen que ainda não estrearam aqui.Quero caminhar 45 minutos de manhã cedo.Quero assinar a revista Bravo.Quero renovar as flores de casa toda semana.Comer muito queijo emental.Ser a primeira a abrir o jornal.Dormir em lençóis de percal.
Em 99 quero ir mais ao Margs.Dar menos explicações.Ver o Walther Salles e a Fernanda Montenegro brilhando no Dorothy Chandler Pavillon.Quero oito horas de sono.Andar de trem.Brigar com ninguém.Escrever um livro.Dirigir ouvindo Pop Rock.Quero tomar mais água.Bordar um tapete.
Não quero ver filme com bicho, nem festa com mapa, nem ouvir má noticia.Não quero cama amarfanhada, Celine Dion, poesia concreta, reunião de condominio, banho frio, barulho de obra e, se pudesse pularia os domingos.
Em 99 quero subir pela escada, comer caranguejo com molho rosé, viajar com as minhas filhas, apoiar os pés na mesinha de centro, não deixar faltar gelo, manjericão e beijo na boca. Tenha você também um ano feliz a seu modo.”
Martha Medeiros (Outubro de 1998) Crônica do livro “Trem Bala”