[CRÔNICAS DA CASA]

coisas que ficam e o que realmente vale a pena


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Esta toalha, toda em ponto cruz é linda. Seu valor estético é percebido por muita gente, mesmo quem não tem tanta paixão pelas “coisas da casa” como eu.

Mas seu valor emocional é o que a faz muito, muito mais bonita.

Esta toalha foi bordada pela avó da minha mãe, a nonna Maria. A tal da nonna, pelo que me contam, era uma senhora muito austera que enviuvou cedo e andava toda vestida de preto no paesino que vivia na Itália. Educou os filhos com mão de ferro, e como boa matrona, decidia o que acontecia na vida deles. Uma de suas decisões, por razões que o tempo obscureceu, foi a de mandar a família da minha mãe (meu nonno Sandro, minha nonna Ines, meu tio Lico e minha mãe) para o Brasil em 1.951. Na época, minha mãe tinha 8 anos, contava que não sabia bem o porquê da aventura além mar, mas que só via gente chorando e comovida. Também falava que teve que fazer a primeira comunhão antes que todas as amigas, e que entrou na missa dominical sozinha para receber o sacramento. E que depois partiram para o continente desconhecido de navio, sem ter a menor ideia do que iriam encontrar do outro lado do oceano. Todas as vezes que minha mãe fala sobre isto, eu tinha a nítida impressão de estar assistindo a um filme em branco e preto, bem pesado e triste, com uma carga grande de dor e dúvida. Independente destes sentimentos, a vida encaminhou-se para que a família Ferrari – esta, que batiza meu sobrenome – se estabelecesse em terras brasileiras e não voltasse mais a viver na Itália.

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A tal da nonna Maria, protagonista da história e da toalha, nunca mais voltou a ver minha mãe. Bordou a toalha em ponto cruz para enviá-la de presente de casamento para a neta, mas por uma coincidência (ou sincronicidade, como bem coloca o Renato Castanhari) a nonna faleceu no dia do casamento da minha mãe, dia 17 de dezembro.

E a minha mãe faleceu há quase 17 anos.

E eu tomei posse da tal toalha por direito e herança (que assim me permiti). E a usei somente uma vez, para comemorar meu aniversário em um dia 17. Depois ela ficou bem guardada na cômoda da sala. Semana passada, com meu siricutico decorativo, esvaziei a cômoda e reencontrei a toalha. Fitei as flores com carinho e capricho –  e, a despeito da história cinzenta que ela carrega, senti um afago bem colorido no meu coração.

Minha filha está prestes a completar seus 8 anos, a mesma idade com a qual a avó imigrou para o Brasil. Nossa situação de vida é muito diversa e – pelo menos por enquanto – não temos nenhuma perspectiva de mudar de país.

Eu, a esta altura do campeonato, me preocupo demais com o tipo de recordações que deixarei para meus filhos, pois sei que quando somos pequenos tudo soa maior (seja para o bem, seja para a tristeza). Tenho a sorte de ter grandes e boas lembranças da minha infância feliz e livre, onde o mundo parecia não ter limites, ao contrário da trajetória cinzenta da dona Ornella.

Eu quero passar  para meus filhos esta sensação de liberdade, de vento no cabelo, de beleza, sol e amor desta vida que vivemos. E quero mais é usar a tal toalha bordada e colorida para celebrar e muito os bons momentos que passamos juntos. (Porque é isto que fica e o que vale a pena)

“Só levamos da vida a vida que a gente leva” não é o que dizem por aí?

Beijo grande

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de volta – e muito feliz!

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