Outro dia recebi a pasta de lições da minha filha.Achei graça em ver que no meio das lições de lógica e matemática havia uma de português pedindo para que a criança elencasse o que seria realidade na casa do futuro.
Fui ler as colocações da pequena com muito interesse e comecei a lembrar do que era a casa do futuro quando eu tinha 7 anos.
Com certeza, a casa dos Jetsons com suas esteiras rolantes, empregada robô e mil apetrechos tecnológicos na palma das mãos era a personificação de tudo isto. E, por incrível que pareça, as ideias de futuro e comodidade são as mesmas que permeiam o imaginário da minha pequena – mesmo que nestes mais de trinta anos que separam o imaginário dela do meu, muito avanço tecnológico tenha ocorrido.
No outro lado da moeda, na semana passada, eu tive a oportunidade de entrar em uma favela pela primeira vez em minha vida. Foi por meio de uma amiga querida e engajada, que “adotou” informalmente duas gêmeas para tentar dar mais dignidade e esperança a estas crianças.
Passei por ruelas e becos para ajudar a entregar dois colchões de solteiro, lençóis e algumas toalhas de banho. Em alguns minutos alcancei o cômodo pequeno, onde dormem 5 pessoas, iluminado por uma pequena janela de ferro. Muito calor, pouca circulação de ar e um arranjo realmente precário de viver. Arrumamos as camas com os novos colchões e lençóis, colocamos colchas novas e coordenadas para dar um melhor aspecto ao local e minha amiga instruiu a mãe da família de como ela deveria manter o lugar.
Saí pensando muito a respeito, e juntei a estes sentimentos uma história que minha cunhada me contou sobre o revestimento de casas com embalagens de TetraPak (há um artigo muito interessante sobre isto neste link) que será replicado na extrema região Sul de São Paulo, onde ela coordena uma unidade de saúde pública. Já publiquei sobre estruturas de casas feitas com garrafas pet e sistemas de iluminação alternativos – há muita movimentação a este respeito, visto que o lar, o abrigo sempre foi e será uma busca constante da humanidade. Mas de nada adianta organizar o lar, colocar coisas bonitas e coordenadas se não tivermos a base educacional – se as pessoas não tiverem acesso à educação para saber como mante-los e expandi-los. A frase de “ensinar a pescar e não apenas dar o peixe” é mais atual e verdadeira do que nunca.
É importante que as pessoas se mobilizem para que o acesso à educação e a conseqüente construção de uma base social sólida seja real, e não apenas um amontoado de programas paternalistas/assistencialistas tapeando o verdadeiro problema. É justo que, além de um bom colchão para dormir em condições dignas, as crianças possam sonhar com casas do futuro repletas de “sofás massageantes” pois elas tem o básico que a permitam sonhar com isto (comida, higiene, saúde pública) e um alimento para a alma através da escola e do ensino crítico.
Um grande beijo