[FILOSOFANDO]

sobre o eterno e o fugaz


Ontem eu estive em Americana para a cerimônia de entronização da fotografia da minha mãe na escola  estadual que leva seu nome. Dividi por aqui parte desta história quando falei do abaixo assinado pedindo apoio ao projeto. Foi um longo processo, com algumas questões bem desgastantes por um lado, mas com resultados maravilhosos que superaram qualquer percalço no caminhar.

Minhas maiores questões em se nomear a escola como “profa. Ornella Rita Ferrari Sacilotto” se deviam ao processo político envolvido que eu tinha consciência de antemão que poderia ser desvirtuado em manobras populistas, pauta de campanha e “adoração ao santo do pau oco” – como realmente ocorreu. Quando coloquei esta minha preocupação ao meu pai, ele me respondeu com sabedoria: “Filha, os políticos vão. O nome da sua mãe na escola fica”. E ele tinha total razão. O político se foi – graças ao bom senso do voto – e o nome da minha mãe ficou para que o eterno se fizesse presente.

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(Descerramento da foto, junto com a diretora Wanderleia Andrade. Neste exato momento disse para a minha mãe: “Seja bem-vinda!”)

Uma vez eu li que a eternidade era possível no conceito de que as pessoas continuavam vivendo na memória e no coração de outros. Por isso grandes poetas, como Fernando Pessoa, jamais morrerão enquanto a força e a sensibilidade das suas palavras ecoarem em tantos corações.

Isto é a mais pura verdade – tive a prova cabal disto ontem. Jovens falando com orgulho que “estudavam na Ornella”, professores pesquisando a origem do nome, pais e funcionários tratando a foto como a de uma pessoa da família. Tive a oportunidade de dizer algumas palavras para contar um pouco mais sobre a Ornella que agora é muito mais do que a minha mãe: é parte da vida deles.

Por mais difícil que a vida pareça, por mais injusta e inexplicável, o bem que plantamos fica.  Ontem a alma da minha mãe estava viva entre os funcionários da escola, os alunos, pais. Gente que nunca a conheceu em vida mas a leva no coração. Foi mágico.
Por isso nossa vida, nosso amor, nossos atos e nossas amizades são eternas. E as palavras que proferimos ou registramos tem um poder enorme de inspirar, transformar e comover.

Tive várias provas disto ao longo desta semana – o que me leva a puxar mais um dedinho de prosa com vocês.

Desde o começo do blog, há quase 9 anos, eu sempre fiz questão de não “escrever na pedra” momentos ruins. Se algo triste/desagradável/pesado acontecesse, eu procurava sublimar e não escrever, não registrar nada a respeito para que, depois, passado um tempo eu não voltasse a sofrer novamente ao reler e recordar este episódio. Sempre funcionou e ajudou a tornar a escrita e as memórias de vida bem mais leves.

Mas neste ano a  Claudia, da Ikigai, me ensinou algo bem interessante que talvez faça sentido também para você. Depois de um processo longo pelo qual passei, ela me sugeriu que fizesse um ritual de passagem. Funcionaria assim: eu compraria um caderno e registraria nele todas as coisas boas que aprendi e levaria comigo do tal episódio em uma parte e, em outra, tudo o que aprendi e não faria mais sentido levar para a minha vida dali por diante. Era para cuidar disto durante um período determinado (no meu caso, foram os 10 dias que passei em Portugal) e depois fechar o tal registro e só voltar a ele em caso de extrema necessidade. Fiz isso. Desde Outubro não remexo no caderninho e me sinto mais leve – resolvi escrever a respeito porque talvez possa servir à você, como um balanço de final de ano ou mesmo um ritual libertador. Quem sabe não chegou a sua hora também?

Esta vida é tão mágica mesmo, deixemos o eterno existir e o que é fugaz passar e fugir.

Um beijo enorme,

flavia

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delicadeza infinita: eu, meu pai e os versos da d. Ornella estampados na parede da escola

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